Fábio Barreto diz que patrocinadores e o Brasil ainda são conservadores.
Filme com Gloria Pires e Miranda Otto estreia dia 16 e mira o Oscar.
“O Brasil ainda é um país muito conservador”. Com essa frase o cineasta Bruno Barreto resumiu as dificuldades encontradas para captar recurso para seu 19º e mais recente longa-metragem, “Flores Raras”, exibido na noite de sexta-feira (9) na abertura do Festival de Cinema de Gramado, na serra gaúcha. O diretor falou sobre o filme neste sábado (10).
Com estreia nos cinemas de todo o país marcada para o dia 16 de agosto, o filme retrata uma história verídica de amor entre duas mulheres, interpretadas por Glória Pires e pela atriz australiana Miranda Otto, conhecida pela trilogia “Senhor dos Anéis”, entre outros filmes. A abordagem do homossexualismo afugentou os patrocinadores, na avaliação do diretor.
“Foi um filme muito difícil de ser produzido, pois uma é história que vai contra a corrente. O pessoal de marketing, que é quem decide os patrocínios para os filmes, não quer associar sua marca ao homossexualismo”, declarou Barreto, antes de agradecer publicamente pela coragem os parceiros envolvidos no projeto.
“O tema do filme não é homossexualismo, mas isso é um elemento importante para a história. Um ano atrás, o homossexualismo não estava em pauta como hoje. Talvez, se o filme fosse produzido hoje, fosse mais fácil”, acrescentou o diretor, que revelou ter tirado dinheiro do próprio bolso para concluir o filme, pela primeira vez na carreira.
Segundo Paula Barreto, irmã do diretor e uma das produtoras do filme ao lado da mãe, Lucy Barreto, a mesma dificuldade está sendo encontrada para financiar outro filme que será dirigido por Barreto: a comédia “Crô”, inspirada no personagem Crodoaldo Valério, sucesso da novela “Fina Estampa”.
“Flores Raras” custou R$ 13 milhões e será exibido em 150 salas do país a partir da próxima semana. O filme retrata o relacionamento entre a arquiteta e urbanista brasileira Lota de Macedo Soares, interpretada por Gloria, com a poetisa americana Elizabeth Bishop, nas décadas de 1950 e 1960. O diretor, no entanto, destaca que não se trata de um filme de “amor gay”.
“O tema que permeia o filme inteiro é a perda. É um filme de clima, de olhares. O que acontece entre uma fala e outra é muito mais importante do que o que o que é dito em si”, declarou Barreto. “Também não é um filme sobre uma artista atormentada”, acrescenta.
Segundo o diretor, o longa trata de uma clássica história de amor universal. O roteiro foi inspirado no livro “Flores Raras e Banalíssimas – A História de Lota de M. Soares e Elizabeth Bishop”, de Carmen Lucia Oliveira. Os direitos para o cinema foram comprados por Lucy em 1995, mas Bruno diz que só veio a se interessar pelo projeto 10 anos depois, após ver sua ex-mulher, a americana Amy Irving, interpretar um texto sobre Bishop.
Já exibido no Festival de Berlim e em outros festivais pelo mundo, “Flores Raras” foi bem recebido pela crítica internacional e deve estrear em Los Angeles e Nova York entre outubro e novembro, mirando o Oscar. Diretor e produtores acreditam que tanto Gloria Pires quanto Miranda Otto têm boas chances de serem indicadas na categoria de melhor atriz. O filme, no entanto, está fora da disputa em pelo menos uma categoria, a de melhor filme estrangeiro, já que é falado em inglês na maior parte do tempo.
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