Gloria Pires chegou concentrada ao
estúdio para fazer a foto que ilustra este especial. Bem discreta, a atriz que
completa 50 anos em agosto e apareceu na TV pela primeira vez há 45 na abertura
da novela "A Pequena Órfã", começou a fazer a maquiagem para se
transformar em Maria Moura. Enquanto colocava a sobrancelha rebelde da
personagem de Rachel de Queiroz e escurecia a pele, Gloria parecia mergulhada
num mundo particular. Pediu para a equipe esperar que ficasse pronta para só
então conversar. A camisa produzida para a foto recebeu um cuidado extra.
Gloria a amassou todinha com as mãos:
— Maria Moura não usa roupa
passada!
O chapéu - “original” - foi levado
ao estúdio por ela. É o único objeto da minissérie que Gloria guarda na fazenda
da família, em Goiás. E, como num passe de mágica, ela voltou no tempo. A voz
ficou mais grossa, o andar masculino, o sotaque era outro. Seu 1,60m cresceu.
Sem falar, a atriz caminhou até a locação das fotos, no Projac. Ali ela não era
mais Gloria Pires. Era Maria Moura. Em cinco minutos, a reprodução estava
feita. Cada clique mais perfeito que o outro. Não houve ensaio nem preparação.
Gloria só pediu uma imagem da personagem na sua frente para saber posicionar a
cabeça. O restante surgiu naturalmente, e o resultado impressiona.
No fim do ensaio, a
dama da TV chorou. Um choro emocionado. Foi possível, então, perceber que ela
segurava as lágrimas desde o inicio e que só deixou a emoção transparece quando
colocou um ponto final no trabalho.
—Fazer essa
foto foi incrível! Viajei! Isso nunca tinha me acontecido. Jamais fiz um
trabalho com a proposta de recriar uma coisa que eu já tinha feito. Foi muito
forte. Acho que o que aconteceu hoje foi uma coisa intuitiva, sabe? — diz
Gloria, mostrando o entusiasmo que escondeu na chegada.
"Memorial
de Maria Moura" exibida em 1994 está na lista doa trabalhos preferidos da
atriz e, por isso, a protagonista da minissérie foi escolhida para estampar a
capa desta homenagem da Sessão Extra:
— Maria
Moura mítica, uma heroína! E vem de um romance lindo. Foi um trabalho
maravilhoso e puxado. Tinha que ser gravado em fazendas porque não podia ter
poste, prédios, barulho de caminhão... Não existia computação gráfica! O acesso
aos lugares era difícil! Andávamos seis quilômetros numa estrada de terra com
roupas quentes e armar pesadas. Mas valeu a pena.
Confira
a entrevista com a atriz:
- Você é muito cativante, a ponto de todos quererem da um testemunho
sobre você neste especial. Tem consciência disso?
Eu tenho muito prazer em fazer
o que eu faço e estar com as pessoas com quem estou. Sempre comparo as coisas a
um jogo, porque você precisa do outro. A vida é isso e tenho prazer nessa
troca. Quando eu venho trabalhar, venho feliz. Então acho que isso rola
naturalmente, o que me deixa feliz.
- Como lida com o status de
diva?
Acho isso uma grande
brincadeira. Porque uma coisa que eu não sou é diva... Zera, diva. Estou mais
para funcionária do mês (risos). Mas entendo que as pessoas tenham essa relação
comigo, por eu ter começado bem novinha. Até hoje tem gente que diz que me
acompanha desde a Fatinha de "Selva de Pedra". É muito bacana. E eu
sou muito grata ao carinho das pessoas, porque a gente tem que se alegrar com o
carinho, porque de alguma forma você conquistou aquilo. Então você tem certa
responsabilidade também.
- O curioso é que diretor
Daniel Filho reprovou você no teste para a novela "O Primeiro
Amor"...
Pois é. Mas acho que a gente
cresce muito mais nas dificuldades do que n maciota. Sem dúvida ter sido
rejeitada tão cedo na minha vida, me trouxe uma bagagem muito bacana para o que
veio a seguir.
- Há quem pense que você sempre
quis ser atriz. Mas essa não é verdade...
Não sei por que atuava. Se era
porque o meu pai me levava, se eu queria agradá-lo... Porque era muito sofrido.
Eu não ia porque queria, não dizia: "Pai, me leva, eu quero fazer
isso".
- Mas você sempre
foi desinibida?
Não, sempre fui tímida. Isso
sempre foi uma coisa difícil. Gravar externa era um inferno, morria de vergonha.
Essa coisa de as pessoas pedirem autógrafo, eu achava aquilo tão doido!
Pensava: "Por que essa pessoa que o meu autografo? Vão fazer o que com
isso?"
-Você viveu em Paris com a
família de 2007 a 2011. Sentiu-se reabastecida ao voltar?
Foi muito importante essa experiência
de viver num lugar onde ninguém sabia quem eu era. Então, eu tinha uma
liberdade. Acho que isso me enriqueceu como pessoa, me pautou de uma certa
forma. Porque você, desde criança, habituada às pessoas saberem quem é você, o
que você faz tudo seu ser noticiado, cerceia muito a sua liberdade. Foi bacana
ter ido morar lá, ter podido fazer coisas sem me sentir observada.
- Chegou a pensar em parar e
viver só para a família?
Em alguns momentos pensei, sim.
Mas o dia a dia me mostrava que seria impossível. Não dá para você descartar
uma parte sua. É o seu trabalho, está dentro de você.
- Você coleciona vários
sucessos, mas "Desejos de Mulher" (2002) e "Suave Veneno"
(1999) não saíram do jeito que você gostaria...
Foram duas novelas complicadas.
Um desencontro total. Mas, hoje, vejo como esses momentos precisam acontecer.
Quando eu me lembro dessas novelas eu só penso nisso: falta total de
comunicação. Não me sentia alinhada com os trabalhos, e eles não me davam
retorno.
- Você chegou a pedir para sair
dessas novelas?
Eu não peço pra sais, porque
acho um desrespeito enorme. Sei lá, entrou no jogo, treinou, faz parte de uma
equipe. Aí o jogo está dando errado e você pede pra sair?Não é a minha cara.
- Como analisa seus 50 anos de
vida?
Olha, parafraseando a nossa
saudosa Mara Manzan, "cada mergulho é um flash!". Acho que isso
resume bem esses 50 anos. Porque tem sido muito mais feliz do que tudo que eu
imaginei, até nos meus melhores sonhos. Claro que todo mundo tem problema,
medo, insegurança, mas eu não posso reclamar de nada... Eu nunca vejo a minha
vida pessoal ou a minha carreira como um jogo ganho. Quero tudo que puder ter
de oportunidades, de novas possibilidades. Estou sempre pronta. Pronta para o
desafio. Pronta pra ir lá e ver no que vai dar.
Fonte: EXTRA
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