0 anos em 2012. Felizmente já podemos rever a clássica novela de Janete Clair graças à iniciativa da Globo Marcas em lançá-la num box com seis discos, produto obrigatório para a compreensão não apenas da indústria da Comunicação no Brasil, mas, em particular, dos processos econômicos e sociais que se desenrolaram no país a partir de então.
(No vídeo: as estrelas de Selva de Pedra Regina Duarte, Francisco Cuoco e Carlos Vereza falam sobre a novela)
Produzida pela Rede Globo em 1972,Selva de Pedra marca o início da modernização e industrialização não apenas da telenovela brasileira, mas do entretenimento de um modo geral. Não por um acaso, período em que o Brasil passa por um processo de transição – de rural para industrial. O preço, como o próprio protagonista, Cristiano Vilhena (numa precisa interpretação de Francisco Cuoco), mostrará, não será baixo.
Segundo jornais e revistas da época, o capítulo 152 de Selva de Pedra alcançou incríveis 100 pontos de audiência
Transitando de uma simplória cidade a uma metrópole selvagem, o tocador de bumbo do município de Campos, depara-se com o desenvolvimento desordenado ao chegar no centro urbano do Rio de Janeiro, desequilibrando os sentimentos mais nobres. Era o homem em conflito entre o ser e o ter, exposto à força imperativa do progresso. E quem o conduzirá para o melhor caminho? O puro e ingênuo amor do interior personificado na doce figura, mas não menos determinada, da escultora Simone Marques (Regina Duarte)? Difícil resposta, pois representando o progresso, o luxo que o dinheiro propicia, os charmosos jogos de tênis assistidos de camarote acompanhados pelas melhores marcas de whisky, há a sedutora presença de Fernanda (Dina Sfat).
Entre eles, a embaralhar o jogo emocional, Miro (Carlos Vereza), talvez o primeiro malandro da história da teleficção nacional que, a despeito da marginalidade, não perde a linha.
E ao imponente Aristides Vilhena (Gilberto Martinho), espinha dorsal do capitalismo, contrapõe-se o obstinado Sebastião (Mário Lago), religioso que encontrou no evangelho a força necessária para combater os descaminhos do mundo atual. Irmãos separados por ideologias distintas.
E ao imponente Aristides Vilhena (Gilberto Martinho), espinha dorsal do capitalismo, contrapõe-se o obstinado Sebastião (Mário Lago), religioso que encontrou no evangelho a força necessária para combater os descaminhos do mundo atual. Irmãos separados por ideologias distintas.
Simone e Fernanda, duas mulheres que atravessam a vida de Cristiano, o complexo personagem criado por Janete Clair, o primeiro herói completamente urbano, representante do mundo moderno e por isso mesmo hesitante, atormentado, com seu caráter violentado, arrastado pela selva de pedra.
Da fraterna Pensão Palácio, de Fanny (Heloísa Helena), no bairro do Catete, onde encontramos os mais variados tipos urbanos, como a menina Fátima (Glória Pires debutando oficialmente em novelas; confira no vídeo ao lado), à conquista de um lugar ao sol na alta sociedade, coroada pela esfuziante Laura (Arlete Salles), o nosso protagonista enfrentará os diversos obstáculos que se interpõem ao caminho do herói, ainda que com seus desvios (ou dúvidas?) de conduta. No auge da trama, Cristiano sofrerá o maior abalo de sua vida. Simone, seu maior e verdadeiro amor, morre num trágico acidente na Rodovia Rio-Petrópolis.
Em forma e conteúdo a novela abria um novo capítulo na história da televisão, pois as câmeras portáteis facilitavam a execução de cenas como o histórico acidente. A explosão do fusca permaneceu para sempre na memória de todos os que acompanhavam a novela nos idos de 1972 e foi capa da pioneira Revista Cartaz, que registrava o cotidiano da televisão.
Debatendo-se entre o ser e o ter, forças antagônicas em difícil equilíbrio, os sentimentos de Cristiano ficarão ainda mais abalados ao reconhecer na famosa escultora Rosana Reis, a imagem de sua falecida mulher, Simone.
Debatendo-se entre o ser e o ter, forças antagônicas em difícil equilíbrio, os sentimentos de Cristiano ficarão ainda mais abalados ao reconhecer na famosa escultora Rosana Reis, a imagem de sua falecida mulher, Simone.
Selva de Pedra marca também a estreia do diretor Walter Avancini na Rede Globo, trazendo uma estética intimista, novos movimentos de câmera, na condução de atores. Prosseguia, dessa maneira, com o belo trabalho implantado por Daniel Filho. À moderna direção de ambos, juntavam-se também mais dois nomes que contribuíam para os novos rumos da telenovela: Reynaldo Boury e Milton Gonçalves.
A modernização fez-se presente logo na abertura da novela (veja a abertura no vídeo ao lado), síntese da petrificação do homem na selva de pedra e da distorção emocional vivenciada por Cristiano Vilhena. Inovadora por mostrar o cotidiano da cidade em movimento, conduzia-nos do centro da cidade, Central do Brasil, à Avenida Chile, passando pela Avenida Rio Branco até Copacabana. De fato, marcos da modernização do Rio de Janeiro, como a Catedral e o prédio da Petrobras eram exibidos na abertura ao lado do clássico Palácio Monroe e seus dois leões, numa técnica de slow motion. Leão que passou a simbolizar a novela, a transformação dos homens em feras na selva de pedra.
A ação da Censura Federal foi decisiva em Selva de Pedra. Cristiano se casaria com Fernanda (Dina Sfat), pois acreditava ser viúvo de Simone (Regina Duarte). Contudo, como Simone estava viva (e o público sabia disso), a Censura Federal entendeu que Cristiano seria um bígamo e proibiu a continuação da trama. Janete reestruturou a novela fazendo com que Cristiano abandonasse Fernanda no altar. Após o vexame, Fernanda enlouquece e arma uma ardilosa vingança contra Cristiano.
A trilha sonora nacional foi composta para a novela por Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, sendo a música "Capitão de Indústria" (tema de Aristides Vilhena), na voz de Djalma Dias, um dos destaques do disco. A internacional trouxe um grande sucesso da teledramaturgia: "Rock and Roll Lullaby", tema de Cristiano e Simone cantado por B. J. Thomas. Música que firmou a trilha sonora internacional de novelas no mercado fonográfico.
Segundo jornais e revistas da época, o capítulo 152 de Selva de Pedra (quando Rosana Reis revela a verdadeira identidade) alcançou incríveis 100 pontos de audiência.
Janete inspirou-se no romance "Uma Tragédia Americana", de Theodore Dreiser, mas criou uma novela absolutamente comprometida com o modernismo emergente do país de então.
Os intricados caminhos de Cristiano, Simone, Fernanda e Caio (Carlos Eduardo Dolabella), tramavam os enredos e conflitos do homem entre o ter o ser, exposto ao desenvolvimento desordenado das megalópoles, tentando equilibrar-se entre os bens espirituais e materiais, forças díspares que transformam os sentimentos na selva de pedra até os dias de hoje!
Para ver os videos clique no link abaixo:
Os intricados caminhos de Cristiano, Simone, Fernanda e Caio (Carlos Eduardo Dolabella), tramavam os enredos e conflitos do homem entre o ter o ser, exposto ao desenvolvimento desordenado das megalópoles, tentando equilibrar-se entre os bens espirituais e materiais, forças díspares que transformam os sentimentos na selva de pedra até os dias de hoje!
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Fonte: Rede Globo
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